05 fevereiro, 2007

Porquê o Livro? I

Sugestão de:

Noémia Lopes – Professora de História e Geografia de Portugal;
Coordenadora da Biblioteca EB 2,3 de Vilarinho do Bairro.




A escolha recaiu em "O Velho Que Lia Romances de Amor" de Luís Sepúlveda como poderia ter recaído noutro escritor Americo-Latino, fosse ele Gabriel García Marques, Jorge Amado, Isabel Allende ou Laura Esquivel, escritores por quem sinto verdadeira paixão na forma como narram e descrevem o social-político-cultural dos seus países.
Este pequeno e imenso livro foi "devorado" nos acessos de febre de uma gripe de Inverno e talvez por isso tivesse permanecido em letargia, ressurgindo com o desafio lançado pelo blogue da Biblioteca.
"O Velho Que Lia Romances de Amor" consegue em poucas páginas descrever um mundo que me é particularmente querido: Antropologia versus Ecologia, daí a razão da minha escolha.
E porque é um livro que se lê depressa talvez o possa recomendar a quem queira "embrenhar-se" na magia e crueza da Selva Amazónica.
Fica ao vosso dispor na nossa Biblioteca.

"O Velho Que Lia Romances de Amor"
de Luis Sepúlveda

Antonio José Bolívar Proaño, nascido e criado em San Luís, povoado serrano encostada ao vulcão Imbadura, comprometido aos treze anos com aquela que viria a ser sua mulher, Dolores Encarnacion del Santíssimo Sacramento Estupiñán Otavalo, agricultor sem eira nem beira, tentador da sorte no plano de colonização da Amazónia, viajante em canoa, autocarro e a pé, passando por El Dorado, Zamora, Loja; proprietário em El Idilio de dois hectares de floresta, terra fraca e infestada, aprendiz dos costumes dos Xuar na luta pela sobrevivência, viúvo devido às altíssimas febres da malária… ele que só lia romances de amor…
"Trouxe-te dois livros.
Os olhos do velho iluminaram-se.
- De amor? O dentista fez que sim.
Antonio José Bolívar Proaño lia romances de amor, e em cada uma das suas viagens o dentista abastecia-o de leitura.
- São tristes? – perguntava o velho.
- De chorar rios de lágrimas – garantia o dentista.
- Com pessoas que se amam mesmo?
- Como ninguém nunca amou.
- Sofrem muito?
- Eu quase não consegui suportar
– respondia o dentista.
Mas o doutor Rubicundo Loachamín não lia os romances.
Quando o velho lhe pediu o favor de lhe trazer leitura, indicando
muito claramente as suas preferências – sofrimentos, amores infelizes
e desfechos felizes -, o dentista sentiu que estava perante um encargo
difícil de cumprir.
Pensava em como seria ridículo entrar numa livraria de Guaiaquil e
pedir: «Dê-me um romance bem triste, com muito sofrimento por causa do
amor e com um final feliz». Haviam de tomá-lo por um velho maricas, e
a solução veio ele a encontrá-la inesperadamente num bordel da
marginal.
Uma tarde, estava ele (…) com Josefina, uma esmeraldina de pele
brilhante como a de um tambor, quando viu um lote de livros arrumados
em cima da cómoda.
- Tu lês? – perguntou.
- Leio. Mas devagarinho – respondeu a mulher.
- E quais são os livros de que gostas mais?
- Os romances de amor – respondeu Josefina, acrescentando os mesmos
gostos de Antonio José Bolívar. A partir dessa tarde Josefina foi
alternando os seus deveres de dama de companhia com os de crítico
literário e, de seis em seis meses, seleccionava os dois romances que,
na sua opinião, proporcionavam maiores sofrimentos, os mesmos que mais
tarde Antonio José Bolívar Proaño lia na solidão da sua choça diante
do rio Nangaritza.
…num "inferno verde" e perdido, naquela "região maldita", que lhe
arrebatara o amor e os sonhos, mas que afinal nunca conseguiu odiar.



Luis Sepúlveda, nascido em Ovalle, Chile em 1949, contemplado em
Oviedo com o Prémio Tigre Juan, homenageado por esta obra espantosa,
que nos percorre a mente como um filme e onde o actor principal é a
floresta da Amazónia.
Luís Sepúlveda, que dedicou este livro ao seu amigo Chico Mendes, uma
das figuras mais destacadas do Movimento Ecologista e assassinado por
defender a "causa índia", conta-nos uma história rápida, repleta de
descrições luxuriantes ao mesmo tempo que narra o quotidiano de um
mesmo espaço, coabitado por brancos e índios.
Luís Sepúlveda, escritor, realizador, jornalista e activista, membro
da Unidade Popular Chilena nos anos 70, exilado após o golpe militar
de Pinochet, actualmente a residir em Espanha, tendo trabalhado em
inúmeros países da América do Sul e vivido entre os índios Xuar numa
missão da UNESCO, contribuiu para a formação literária de Noémia
Maria, transmissora de História e ouvinte de histórias e que "arruma""O Velho Que Lia Romances de Amor" entre os dez melhores livros que
leu, na prateleira de cima da sua "Biblioteca" interior.
Bibliografia de Luis Sepúlveda
• As Rosas de Atacama;
• Contos Apátridas;
• Diário de um Killer Sentimental;
• Encontro de Amor num País em Guerra;
• O General e o Juiz;
• História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar;
• Histórias do Mar;
• Mundo do Fim do Mundo;
• Nome de Toureiro;
• O Velho que Lia Romances de Amor;
• Patagónia Express;
• O Poder dos Sonhos;
• Os Piores Contos dos Irmãos Grim;
• Uma História Suja.
Consulta na Internet:
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